O Christão novo
Book Excerpt
«A fama das suas boas partes moraes e phisionomicas voára até os paizes estrangeiros. No serralho do xerife de Marrocos grangeara grande estima e uma das suas filhas morria de amores por elle. Todas as veses que a nobre donzella encontrava Dom Diogo das Torres, captivo a quem se facultava entrada livre no palacio por ser protegido de Muley Abel Mumen, irmão do xerife, nunca se fartava de fallar-lhe no infante. Um dia que passeava nos jardins do palacio viu Dom Diogo e chamou-o para lhe diser: «Colhei de aqui algumas flores e tecei com ellas uma corôa semelhante ás que trasem os principes christãos». Obedeceu Dom Diogo das Torres e cuidou de offerecer-lh'a. Tomando-a então e pondo a corôa na cabeça encantadora, ella lhe disse: «Permittam os ceus que eu algum dia viva unida com o infante Dom Luiz como suaesposa e que, sendo elle o rei, eu seja a rainha de Portugal![5]&ra